Sandro Mesquita
Big Black Brasil
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Às vezes penso que se eu não fujo ou desvio de algumas pautas, no mínimo as evito por algum motivo que talvez não justifique meu silêncio momentâneo.
Esses dias um professor me disse para que contribuísse mais nas aulas, que com o acúmulo e experiências que já tive na vida, assim como alguns colegas meus que também já têm um pouco mais de vivência, isso iria ser muito bom para a turma, daí respondi pra ele que não queria me tornar o “chato do rolê” ao menos na minha percepção.
Estávamos falando do conhecimento vivido, experienciado e absorvido sobre as questões e pautas raciais que estão, ou deveriam estar, ligadas a qualquer aluno das Ciências Sociais, ciência que está tentando entender como a sociedade se move, sua construção e concepção.
Podemos aqui tentar fazer uma análise, como já deve ter sido feita por várias pessoas e por vários ângulos sobre o programa que se intitula ser de entretenimento Big Brother Brasil, que precisou chegar na sua vigésima terceira edição para que tivéssemos uma maioria de pessoas negras em seu top 10.
Como um retrato ou espelho da sociedade, temos nesse modelo de programa onde pessoas que não se conhecem assinam um “contrato social”, relações pré-estabelecidas de convivência onde nem tudo foi pactuado, pois como diz o ditado: Quando a carroça começa andar e que as abóboras vão se ajeitando.
Então nessas relações, muitos sentimentos, emoções, atitudes vão fazendo parte do game, levantando diálogos, debates, discussões e pautas colocando em cheque, a sociologia que está dada que deixou de aprofundar a temática racial e seus recortes, marcadores e dimensões.
Temas dos mais corriqueiros, o que não quer dizer entendido como intolerância religiosa, que se dá em vários aspectos e veio à tona com a situação do Fred Nicácio
Temas novos como o amor preto a partir da relação linda de Sara e Ricardo, já que o que se vê muito na televisão são relacionamentos inter raciais reforçando o mito da democracia racial. A questão do feminismo negro que têm em sua essência uma outra construção e olhar trazido muito pela Domitila e aqui está posto a crítica ao feminismo concebido pela nossa sociedade, a solidão da mulher negra que se deu em quase todas edições, quando eram as únicas que não dançavam, não beijavam, não ficavam. E agora a solidão do homem negro exemplificado no convívio do César Black que assim se sentiu quando não conseguiu fazer uma amizade coisa que ele diz ser muito fácil pra ele em outro contexto com sua característica e personalidade.
Questões como afrotrencidade, o mulherismo africano, linguística e cultura que ficou acentuado na desentendimento entre Tina e Key, a masculinidade do homem negro e de personalidade forte colocando por terra também o mito do homem cordial, mas uma entre tantos ensinamentos teóricos que são perpetuados na nossa sociedade através dos livros e da educação. A própria sexualidade sempre colocada à prova e apresentada de forma plural pelo Gabriel, como também o fato de falta de entendimento e malícia em alguns temas e atitudes de muitos de nós, descrita em algumas palavras da Aline quando se confidencia com uma outra negra para além de uma grande amizade e paixão que existe por traz de cada desentendimento entre os brother’s negros, o que não significa que todos nós nos amamos ou devemos nos amar, mas sim que devemos nos entender e a sociedade precisa compreender que existem tantas coisas por de traz de uma atitude racista ou de uma reivindicação ou reclamação de um negro.
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